16 de janeiro de 2009

O melhor de tudo, é que era pra mim.

Não era algo comum, tampouco ordinário, falsificado ou copiado. O que eu vi não era palpável, material ou feito de qualquer coisa oriunda dos homens, fosse qual fosse seu nome. Talvez nem terrena fosse a tal da coisa. Suspeitei que tivesse me deparado com alguma encomenda perdida de algum ser angelical, ou quem sabe provinda de um anjo em si, de auréola, asas e um bom coração. De pouca complexidade, era até bem simples na verdade, mas de tão simples se fazia rara.
Ao simples e ao raro, eu adicionaria o puro. Proveniente dos bons anjos e muito pura, esta coisa é bem coisa de criança, e se de criança provém, eliminando todas as possibilidades desta lógica sentimental, resta a quem lê arriscar um “sorriso”.

Não o seu sorriso, não o meu sorriso; mas sim, o sorriso que vi.

Apresentaram-me a ele tempos atrás, mas nunca havia feito objetivo de procurá-lo. Se tivesse corrido, vasculhado e me esforçado, talvez nem teria encontrado, visto que foi ele quem me achou, afinal. Olhando distraído, desprevenido, como quem muito ama e pouco teme, foi sem aviso e bem descontraído que me tirou o ar. Numa jovem de sorriso fácil eu me deparei, talvez pela segunda vez, com o que eu nunca havia procurado, mas sempre quisera encontrar.
Não era um sorriso cheio de dentes, brilhante ou vestido de batom. Se tinha covinhas, se era grande ou pequeno, nu ou de aparelho, não saberei nunca lhe dizer.
O que posso lhe adiantar era sua serenidade. Bem calmo, como quem toca um violão à beira da praia e vê o tempo passar, aquele sorriso me sorria. Era alegre, era bem feliz, feliz em estar como estava, bem ali. Ele brincava de sensações e me lembrava até algum cheiro simples, algum cheiro puro, algum cheiro da chuva. Era um sorriso gostoso de se ver, daqueles que se lê mais claramente que a palavra escrita; daqueles que se ouve uma gargalhada de satisfação, mesmo que não emita som algum.
Se era largo ou bem estreito eu nunca vou saber, mas eram dois. E não eram duas bocas que me sorriam, mas dois olhos que me olhavam. Bem ali, escancarado, era com os olhos que ela me sorria, eram seus olhos que a delatavam.
Era com os olhos.
Ela sorria com os olhos,
e sorria pra mim.



Nunca fui tão agraciado, nunca fiquei tão agradecido.
Muito, muito obrigado.

Um começo, um fim, e nada no meio.

O espelho a observava e ela encarava-o de volta. Hoje, mais que nos outros dias, ele lhe dizia bonita, e dessa vez, não mais menina. Agora era moça feita, mulher da vida e não tão perfeita, mas é com essa beleza que havia de pagar o leito em que se deita. Ah, o começo... foi cometa! Moça nova no pedaço, era um pedaço de mal caminho: carinha de menina e corpinho colegial; como diziam os clientes: - Pneumática, nada, nada mal.
E Mirela fazia sucesso. O dinheiro entrava até mais que os próprios clientes. Ela tinha o que comer, onde dormir e agora não era só sobreviver. Seu preço escolhia os homens ao bel prazer e as noites eram mais por esporte do que simplesmente “fazer”. Agora Mirela se fazia, fingia não ser mulher da vida, ia à igreja e tinha moradia fixa. Não acreditava tanto nesse tal de Deus, mas se isso a fizesse parecer mais gente, mais decente, estava de bom tamanho.
No entanto, como as carnes de comer, que se conservam melhor no abrigo de um freezer, a esta altura nossa prostituta estaria mais segura se não ficasse exposta ao frio da rua. Como uma carne ao vento, seu corpo maltratado por um senhor chamando Tempo já não era mais o mesmo. Mirela não entende, porém, quando menos esperava, já estava grávida e doente.
Veio o filho, foram-se os clientes. Não tinha partido deste mundo e sua criança já ganhara a herança: tal qual sua mãe, era soro positivo, doença incurável; mais um sem esperança. Ainda freqüentava a capela, no entanto, já era conhecida, todo mundo já sabia: - Aquela ali, mulher da vida – e mal sabiam que era de uma vida que Mirela precisava.
“O Cristo que me pregam nem era tão bom assim”, pensava. Ganhara e perdera a vida exatamente como Ele, porque havia de ser pior? A vida inteira o pão foi de seu corpo, e o vinho era o sangue, o mesmo sangue, nos mesmos dias do mês, toda vez. Era este vinho que a fazia recordar seu eu mulher, que desperta o desejo e lhe trazia o dinheiro.
“O Cristo que me pregam nem era tão bom assim”, não cansava de repetir. “Igualzinha a Ele, findo-me numa cruz, numa encruzilhada, tão pesada quanto.” Com um filho pra sustentar, lá se vai mais uma prostituta das esquinas desta vida, doente, em dívida, ofendida. E sem um Deus que lhe baste para acreditar.
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Da época do cursinho.
O tema era prostituição, e a proposta era que se fizesse uma narração. A avaliadora gostou bastante, mas não aceitou, já que acabei fazendo uma narração 'com sonoridade', e isso não é permitido no vestibular...

13 de janeiro de 2009

Ausente,

mas por forças maiores que a minha própria.
Felicidade extrema seria uma desculpa para não escrever? Não, na verdade um motivo a mais para escrever, não é? Mas se somarmos esta felicidade extrema à empolgação elouquente e duradoura, mais o deslumbramento real do que antes era apenas um futuro impossível, aí sim temos uma boa razão para NÃO postar.

Chega de mistério. O motivo de tanto euforia? PASSEI!
Eu
passei
no
ves-ti-bu-lar!

Jornalismo UFSC 2009.2, aí vou eu!

Só para deixar a par os poucos que acompanham o blog e não me conhecem pessoalmente, e dizer que a partir de amanhã retomarei as atividades. heheh