19 de dezembro de 2009

A menina dos olhos

Bom dia. Boa tarde ou... boa noite! Ou que bom seja qualquer período ou dia em que você, curioso leitor, estiver me lendo. Hoje venho com um testemunho sobre uma menina diferente das outras, que é dessas que um homem procura uma vida inteira para achar.
Fui longe atrás de uma assim.
Procurei incansavelmente, passei pelos caminhos mais tortuosos que se pode passar, e, no fim de minha jornada, a descobri a dez quadras de minha casa. Ela é especial para mim, então, mesmo que eu tente, a imparcialidade talvez não me seja um pertence aqui. Sem mais delongas, lhe apresento quem chamo de Menina dos Olhos.

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Obs.: Menina dos Olhos pode parecer um termo abrangente demais para uma menina tão especial quanto a menina destes olhos em especial, mas faço questão de nomeá-la assim, visto que é assim que a vejo, feita de olhares.
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Seria, no entanto, grosseria a minha se não antes me apresentasse! Bom, adiantando um pouco as coisas, lhe digo: o que lhe conto aqui não é para causar inveja, mas é que tenho motivos para me vangloriar. Fui nomeado pela própria menina dos olhos como um autêntico Menininho! Foi assim que ela fez para me diferenciar dos homens grandes. E como bom menino que sou, aprecio os detalhes que os grandes já não enxergam mais, aqueles que apenas os pequenos veem. Talvez eu não o faça sempre, é bem verdade, visto que a fisiologia de meu corpo já não me identifique mais como criança... mas tento sempre. Aprecio as coisas bonitas e as percebo quando assumo o posto que a Menina me concedeu. Quando assumo a meninice que ela me devolveu.

Então, a Menina é tudo o que os meus olhinhos fizeram questão de registrar. Para começar, um fato: não é só de olhos que ela é feita. É claro que não. Sou um menininho, observo todos os pequenos detalhes. Veja os cabelos, por exemplo. Longos. Lisos aqui, enrolados ali. Um pouco como a Menina... fácil de entender, de manusear, de se relacionar, como os cabelos de cima, lisos. Mas complicada também, enrolada como os cabelos da ponta. E, ainda que fácil e complicado, tudo ao mesmo tempo, é também bonito e com cheiro de flor.
Ah, sim, o cheiro da Menina! Eu, no meu tempo de menino que passa rápido demais, lamento não ficar um pouco mais, onde o ar tem o cheiro de primavera que eu não canso de respirar...
E o respiro! Sim, a seqüência de inspirações e expirações que só ela tem... já conheço de cor. Já notei as combinações, as velocidades, as quantidades e os tamanhos de suas respirações! Cada ínfimo detalhe do movimento de sua boca e pulmões eu anotei com meus verdejantes olhinhos pequenos.
Porém, ainda que eu pense já ter reunido tudo sobre os olhos e sobre a menina, da boca que respira também brotam palavras, frases, histórias. A menina, mais do que qualquer outra menina, tem muito que contar. Histórias mirabolantes, aventuras desvairadas, anedotas malucas. Todas verdades, em que seus olhos não deixam mentir. Verdades atrás de verdades, a menininha joga em meus ouvidos palavras gostosas de ouvir, recheadas de detalhes, verdadeiras até o fundo dos olhos.


E os olhos... finalmente os olhos. Uma típica qualidade de menina. Contudo, não tão típica quando a menina já tem seus bem dezoito anos vividos. Como eu, que fui nomeado Menininho pela 'dos Olhos, a fisiologia de seu corpo já não a identifica mais como menina. A diferença entre nós é que ela não tenta ser menina. Ela o é, independente do que seu corpo aparente aos outros. O segredo está nos olhos.
Estes, tão falados, são grandes, castanhos. Mudam a intensidade de sua cor, combinando sempre com o sol lá fora. Talvez seja por isso que ela não aguente a Europa - a tristeza daqueles sóis reflete diretamente na tristeza dos dela.
Já falei que são castanhos? São castanhos, marrons, cor de café. Ou de capuccino, como ela costuma preferir. Cor de capuccino, só que um pouco mais escuros, e que brilham junto com o sol do céu lá fora. Já vi também seus olhos brilharem no escuro, como que imitando a lua, misteriosa, mas esse brilho dura uns poucos segundos - a menina dos olhos é feita de verdades.

Além da cor e do tamanho, há a maneira como olham os tais olhos grandes cor de capuccino que brilham junto com o sol. O jeito como a Menina dos Olhos me olha é diferente. Às vezes eles possuem um ar de admiração, como se aprendesse com os meus. Mal sabe ela que quem mais aprende sou eu.
Muitas e muitas vezes, vejo neles um olhar de curiosidade, que analisa, como que querendo descobrir tudo que tenho guardado em mim. Mal sabe a menina que o que guardo dela são as notícias que trago desde a última vez que a vi, e nada mais. Tenho certeza que ela sabe, dela nada nunca escondi.
E sempre, sempre vejo nos olhos dela, quando cruzam com os meus, o olhar amoroso de quem cuida do que é seu. Confiante, seguro e quente, como o amor deve ser, como ela me olha.

Mas não são em palavras de menino ou do mais valoroso poeta que eu explicaria o que são esses olhos afinal. A explicação dos olhos dela, é o que reflete os meus, e esse é o máximo que eu posso lhe adiantar. Se encontrares uma menina de olhos tais, tente um dia traduzi-los, como agora tentei. Verás, que, menino ou poeta, não conseguirás senão refleti-la, como eu reflito os dela.

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