14 de dezembro de 2008

O vestibular

acabou. E com vocês, minha redação! Não que eu esteja orgulhoso dela, eu poderia ter feito melhor, muito melhor, não fosse o nervosismo (eu tava tremendo, pelamor!) e a falta de tempo. Mas isso não é desculpa, vestibular é isso, pressão.
Enfim... a proposta que escolhi foi uma narração que começasse com "Era uma vez..." e o excerto dado não era excerto nenhum, era um quadro que mostrava uma família reunida na sala, algo meio antigo, com cara de 1800 quase 1900. Inspirei-me num dos filhos que apareciam, em que ele, bem curioso tentava ler um livro grande; e também no seu pai, que imponente, lia uma carta/pergaminho/algumacoisa.
O desastrezinho de redação segue abaixo, sem correções ou qualquer mudança:
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A palavra só precisa de um momento.

Era uma vez... Apenas uma vez, que o pai pedia silêncio na sala. E ai de quem não se calasse! As crianças torciam o nariz e a mãe se apressava em silenciar o choro do bebê. Nenhum deles gostava, a não ser o menino João. Ninguém nunca lhe notava, porque afinal, era só mais um filho do meio, contudo, ele não ligava, apenas e apenas, admirava.
Enquanto jovem de mais saber ler, ele fixava os olhos naqueles rabiscos de tinta escura e, em vão, tentava os decodificar. Sabia escrever seu primeiro nome, como a mãe havia lhe ensinado, porém de quase nada adiantava. Um “jo” e um “ão” não o permitiam ir muito longe.
João tinha os olhos também para o pai. Não o admirava por admirar simplesmente, mas sim por seu inato talento ao qual o pequeno tanto almejava. Precisava ler! Mais que brincar, correr ou alimentar-se, queria as palavras como sua dieta básica.
E de tanto querer, começou a engatinhar. Engasgava umas fáceis, trancava nas difíceis, mas continuava. Tomou gosto pelas leituras e literatura, se aventurou até mesmo pela escrita. Escrevera uns versos ali, lera livros daqui e casara com uma rapariga qualquer. Porém sua esposa não era seu amor, talvez apenas paixão. O amor de João nunca havia deixado de ser a palavra. Era a ela que dedicava seus versos e eram elas que sempre amara, na busca pela mais adequada.
Como tantos que já se foram e que ainda virão, nosso menino agora homem se rendeu ao mistério de nossa língua. Em seus longos anos de vida, procurava a inspiração correta, procurava a origem, a primordial, a essência do que amara antes mesmo de saber interpretar. Em cada poema ou dissertação, visava entender a complexidade, dissecar as estruturas da palavra origem, da palavra raiz.
Muito frustrado, já no leito da morte esperando que a o fim o confortasse de seu fracasso, deslumbrou o sorriso de seu pequeno diante das palavras soltas de um rascunho antigo. Pediu silêncio, precisava ir em paz, afinal.
Um estalido na consciência e nos equipamentos. Na fração de segundo em que se ia, João também percebia. A palavra sempre estivera ali, no silêncio de um sorriso infantil, na inocência das crianças, na pureza de um momento.
Talvez ele precisasse apenas de mais um momento, mas isso ele já não tinha. João se fora, e consigo, o segredo da palavra.

2 comentários:

Simone disse...

Ah, muito tri. O tema foi ainda melhor. Que sorte sua que esse vestibular permitiu narrativa. O que eu irei fazer - neste ano só por experiência - só permite textos dissertativos.
E quando o tema é ruim, fica mais complicado de escrever. Um beijo!

PS: já sabes o resultado?

Don disse...

a nota foi 7,75