14 de agosto de 2008

Acordou.

Acordou? Parecia, como nos outros dias, cedo demais para alguém em sã consciência, sair da cama. E ao lavar o rosto cansado de uma noite mal dormida lembrou-se o porquê de levantar-se: ser alguém na vida. E o pior, ser alguém na vida estudando física. Como a detestava! Mas sacrifícios deviam ser feitos por um montante razoável no fim do mês e um diploma na parede do escritório. Mas pô, FÍSICA?
- Sim senhor, senhor. E trate de tirar o traseiro da cadeira e os dedos do teclado, porque as palavras não te pertencem mais. Números serão sua vida, física será seu ar e matemática seu chão. Trate de ser o melhor, nada menos que isso.
E foi assim que se instalou o terror na cabeça do menino. Ele podia até ter tamanho de homem, mas os sonhos eram de criança e o mundo ainda não havia deixado de ser bonito. Não aos olhos dele, criança.

Desespero momentâneo.
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Imaginou as mil desculpas que daria aos pais por ter errado de carreira, imaginou todo o estudo praquele tal de vestibular e a iminência do não-êxito. Muita coisa pra sua cabeça que ainda sonhava em cozinhar pra família, fotografar todos aqueles mundos, ter sua coluna na Veja e rodear a Terra em muito mais que oitenta dias. Tudo virou pó, assim, PUF!
E o que sobrou? Física.
Não era um desses covardes que desistem na largada ou espanam a rosca na primeira apertada. Não iria desistir fácil assim. Mas ele determinou-se um prazo. Se depois desses seis meses a física não o ganhar, tenha certeza essa tal de Dona Física, ela o perderá.
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Depois do pânico, calmamente vestiu o jeans surrado, apanhou o casaco e foi ser alguém na vida. Por seis meses, fazer da física uma bem vinda.
Sacrifícios de um admirável mundo novo, em que o salário quase o convenceu de renegar seu verdadeiro eu. Ele era humano e nada exato. Definitivamente, parecia o lugar errado.

Um comentário:

mano maya kosha disse...

é raro conseguir se enxergar nos escritos de outrem, obrigado pela situação vivenciada ... experimentar a vida não significa defini-la, muito menos, limita-la, acho que é por aí ...